segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Tema da Semana #1 - Os Neo-Inquisidores

Entre os domingos e segundas,  tentarei abordar um tema que mais se tenha destacado durante a semana, ou pela sua mediatização ou importância. Apesar de tudo, hoje irei falar dum assunto que já teve o seu pico de discussão há cerca de duas semanas atrás. 

A venda dos Mirós



  Interior Holandez - 1928


Isto, porque acho que é um tema fulcral, naquilo que considero ser o sistemático deslizar dos valores e princípios daquilo que entendo como sendo uma setor importante do nosso país. A cultura.

Desde que estalou a crise em Portugal, mais concretamente a entrada da Troika, ou melhor, deste governo, que a prioridade é basicamente vender tudo o que mexe, ou mesmo o que está parado. Empresas como a EDP, REN, ANA, CTT foram vendidas ao melhor comprador, ou nalguns casos, licitador. Tudo em nome de baixar o défice atual, mesmo sabendo que mais tarde, vamos estar a abdicar de benefícios futuros, ou posições estratégicas em setores vitais para a economia. Infelizmente, tudo o que está a ser feito agora, é pensado para o momento, sem uma visão estratégica, global e de futuro.

As vendas dos quadros do pintor espanhol, não são exceção. Apesar de ser um facto que o artista nunca teve qualquer ligação com o nosso país, não devemos descurar a mais valia que uma obra dele, apresenta para o espólio de qualquer galeria de arte nacional. Aliás, eu que já visitei um dos maiores (senão o maior) museu de arte do mundo, o Hermitage, sei perfeitamente que ele é constituído sobretudo por obras de artistas não russos, o que não deixa de ser um motivo de orgulho para os habitantes da cidade, e do próprio país.

Contudo, o argumento económico, como motivo principal para a venda das pinturas é o que mais me preocupa. As declarações prestadas pelo secretário-geral da cultura, não fazem o mínimo de sentido para uma pessoa com o cargo que ocupa. Este, em vez de defender aquilo para o qual foi mandatado, a cultura, vem dizer o seguinte:

«Os ativos e os passivos do BPN constituem uma dívida que infelizmente nos onera a todos. No Governo, considerámos que era importante assumir a alienação das obras». Rematou dizendo que se não fossem vendidos,  teria então de se onerar «a Saúde» e «a Educação».

Estas afirmações demonstram em minha opinião uma de duas coisas:

Ou o secretário de estado da cultura, é na realidade, secretário de estado da saúde ou das finanças, ou então foi colocado naquele lugar com o objetivo de não levantar muitas ondas e seguir um plano traçado um pouco mais acima na hierarquia.

Continuando, o valor a que as obras estavam à venda, ilegalmente, na Christie's era tão baixo, mas tão baixo, que nem meio por cento valia do buraco que o BPN causou, pelo que, em minha opinião,  os benefícios em ficar pelo menos com alguns dos quadros, iria ultrapassar o custo de não os vender. 

E que beneficios seriam esses?

Ironicamente, benefícios economicos com o aumento de turismo, desenvolvimento artístico (arte estimula arte), identidade cultural, enriquecimento pessoal, entre outros...

Lastimosamente, um dos objetivos da inquisição na idade média, era censurar e destruir todos os símbolos de cultura e inovação científica. Neste momento, o que vemos no nosso país não é a destruição, mas sim a venda de tudo aquilo que pode significar a identidade de um povo, porque é necessário dinheiro rápido e inútil, pois não vai resolver nenhum dos nossos problemas. E isto é só um exemplo.

Termino com a resposta de um dos melhores políticos da história, quando em plena segunda-guerra mundial lhe perguntaram se iria cortar na cultura:

      "Então para que estamos a lutar?" Winston Churchill


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