foto Pedro Correia/Global Imagens (JN) |
Na quinta feira passada, após chegar a casa vindo de mais um dia de trabalho cansativo, resolvi ligar o computador. Abro o mozilla, e, como de costume, aba para jornais desportivos e outra para jornais de informação genérica. Eis se não quando me entra pela casa adentro, mais uma notícia associada a um «sound byte» de um dos maiores magnatas portugueses. É daqueles que têm crédito ilimitado nos nossos jornais e que serve como oráculo divino da sociedade portuguesa. O título, provindo do JN, dizia (clicar no título para aceder à noticia):
Reação imediata, fez-me logo citar o nome de um dos tarifários de carregamento de uma operadora de telemoveis portuguesa, a que o senhor da foto foi presidente. Isto e mais alguns palavrões que não vou pronunciar.
Adiante, como sou uma pessoa que gosta de fazer uma pesquisa relativamente detalhada sobre o que quer que seja antes de formar opinião, resolvi pôr os olhos na informação e descobri o seguinte:
O que é a produtividade?
De acordo com alguns sites (ver e ver), não é mais que a quantidade de produção de determinado bem produzido relativamente aos recursos ou fatores de produção utilizados (pessoas, horas de trabalho, materiais ou dinheiro).
Muito bem, e agora vamos a números. Como só consegui obter dados de tudo o que pretendia, para 2010, é dessa data que faço a comparação. Até vem a calhar, porque foi nessa altura que começámos a ouvir da parte de quem vem de fora julgar-nos, que tinhamos que baixar salários em função da nossa reduzida produtividade:
Percentagem do custos de trabalho por hora, comparando Portugal com alguns países da União Europeia (ver):
PAÍSES
|
CUSTOS DO TRABALHO POR HORA EM EUROS
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ECONOMIA
|
INDÚSTRIA
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|||||||
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
|
Portugal/UE27
|
53,2%
|
53,8%
|
53,3%
|
52,4%
|
45,0%
|
44,9%
|
45,4%
|
43,8%
|
Portugal/Bélgica
|
32,3%
|
32,2%
|
31,4%
|
30,8%
|
26,7%
|
26,5%
|
26,1%
|
25,4%
|
Portugal/Alemanha
|
40,5%
|
41,0%
|
41,2%
|
40,2%
|
30,3%
|
30,7%
|
31,4%
|
30,1%
|
Portugal/Espanha
|
60,8%
|
59,5%
|
59,4%
|
58,7%
|
48,3%
|
47,0%
|
47,5%
|
47,0%
|
FONTE: Labor cost índex – recente trends – March 2012 - Eurostat
| |||||||||||||||||
PAÍSES
|
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
Portugal/UE27
|
74,0%
|
73,5%
|
75,8%
|
76,5%
|
Portugal/Bélgica
|
58,0%
|
58,0%
|
59,5%
|
60,0%
|
Portugal/Alemanha
|
68,3%
|
68,1%
|
72,3%
|
72,6%
|
Portugal/Espanha
|
71,8%
|
70,5%
|
69,0%
|
70,2%
|
Fonte: Labor cost índex – recente trends – March 2012 - Eurostat |
Ganho médio bruto por hora para um trabalhador na UE (eur) em 2010:
Ganho médio bruto por hora (eur)para um trabalhador em 2010 nos países da UE. |
Posto isto e depois da análise aos quadros e gráficos acima ilustrados, interpreto que o número 3 ou 4 referido como aquele que diferenciava o "mandrião" português do "super homem" alemão, diz respeito à jorna horária que este leva para casa. E já agora, se a diferença é tao grande, porque se pretende responsabilizar o "calão" nacional para a menor produtividade que as nossas empresas efetivamente têm. Mas a culpa será mesmo do colaborador/trabalhador?
Curiosamente, um artigo do ionline (ver)refere que foi realizado um inquérito pelo FEM (Fórum Económico Mundial) aos executivos de empresas portuguesas sobre os maiores entraves à competitividade da economia portuguesa. O resultado foi este:
1º - burocracia das instituições públicas (20,6%);
2º - a rigidez da legislação laboral (19,2%);
3º - instabilidade das políticas seguidas (13,5%);
4º - acesso ao crédito (9,9%);
5º - legislação tributária (9,5%);
6º - falta de qualificação profissional (7,7%);
7º - corrupção (4,4%).
Então mas... os empresários portugueses apenas colocam o fator humano, ou seja, os trabalhadores, como 6º motivo pela competitividade ser reduzida?
Bom, certamente se depreende que a opinião produzida não se baseou nalgum dado concreto (pelo menos até 2010) mas sim puramente numa opinião, quiçá enviesada pela experiência própria que teve como administrador e presidente duma grande empresa. Quem sabe se não anda com remorsos por pensar ter recebido mais do que o que produzia...
Por contraponto, neste momento, sempre que for a uma empresa pertencente ao grupo da Sonae, vou pensar duas vezes antes de gastar o dinheiro ganho através do suor da minha produtividade. Tudo porque não gosto de dar de comer a quem cospe no prato.
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